Autor, radicado em Teotônio Vilela, faz parte do grupo Projeto Artístico Insano Orgasmático Literário (Paiol).
Inquietação é o sentimento que permeia a maioria dos versos de autoria de Alexsandro Alves, reunidos no livro Dê(lírios) Intranquilos que será lançado pela Imprensa Oficial Graciliano Ramos neste sábado (7/10), às 20h, no estande da editora na 8ª Bienal Internacional do Livro de Alagoas.
Visceral, a lírica do jovem poeta de 34 anos, discorre sobre tudo aquilo que desacomoda, que causa desassossego: o amor, a morte, a realidade política e social… Sem medo de ser excessivo ou frenético, ele expõe suas revoltas e iras contra as injustiças da vida e contra as dores inevitáveis do existir.
Dê(lírios) Intranquilos é o segundo livro deste professor nascido em São José da Laje, casado, pai e sonhador – como gosta de se definir. Alexsandro Alves é integrante do grupo Projeto Artístico Insano Orgasmático Literário (Paiol), de Teotônio Vilela. Através do incentivo do grupo – que fomenta a produção cultural do município vilelense – ele lançou seu primeiro livro de poesia, intitulado Paragens, em 2014.
Segundo Alves, o desejo de escrever surgiu em 2003, a partir das aulas de literatura do também professor (e amigo), escritor Marlon Silva. “Compreendi, pela escrita, ser possível resgatar, reivindicar a minha existência. No ato da escrita existe algo gritando aos ouvidos do mundo: ‘Estou aqui. Escrevo, penso, consequentemente, existo’”, afirma, mencionando ser devoto de vários autores, entre eles, João Cabral de Melo Neto, Lêdo Ivo, Graciliano Ramos, Arthur Rimbaud, Carlos Drummond de Andrade e Friedrich Nietzsche.
De mente fecunda e criativa, Alexsandro Alves já está concluindo o terceiro livro de poesia, mas promete enveredar pela prosa dentro em breve. Para ele, o papel do escritor na sociedade contemporânea é o de trazer luz onde há trevas. “O escritor se equipara Titã Prometeu que roubou o fogo dos Deuses, repassando-o aos humanos. É função do escritor incendiar, flamejar a sociedade. No exemplo grego o simbolismo do fogo pode representar a luz, o conhecimento e a esperança, algo que pode ser compreendido como o questionamento, a desestabilização dos poderes pré-estabelecidos”, reflete.
Confira um dos poemas de Dê(lírios) Intranquilos:
Fa-Lanças
Eles falam,
Falam e nada falam.
Falam o não-falar.
Falam as leis:
Falam o foro;
Falam o povo;
Ora, por que o povo não aparece em suas falas?
Por que eles não se parecem com o povo?
No seu falar tanto e nada falar,
Eu inutilmente tento me falar.
Falar das falácias em suas falas.
Falar que o povo falece na marca de sua fala não falada.
Falar das facadas à Constituição.
Os privados da força da fala,
Aqueles que nunca falarão,
Que levam seu sonho à faca,
Veem no verbo a sua mais flácida fábula.
Eles, os forjados de fala que não fala,
Falantes falsos,
Falam não falando.
Confabulam falcatruas no seu não-falando eterno falar.
Falar sem falar é facão,
Ousa falar-me meu portátil furacão.
Falam-me infortúnio por não falar.
Mas agora hei de falar-lhes:
Os que falam – no entanto – falam nada,
Furtaram até minhas falas,
Minhas frouxas,
Efêmeras frases fatigadas.