por Miriam Diez Bosch – em Aleteia
(Africa Studio – Shutterstock)
Se o jejum é feito só por costume, a experiência termina vazia de conteúdo. Se você sabe para que jejua, a experiência se edifica
Fazer dieta ou desintoxicar-se é bom. Mas jejuar é outra coisa, que conecta você com o que há de mais importante na sua vida. É o que argumenta Letícia Soberón Mainero nesta entrevista para a Aleteia. Letícia é doutora em Comunicação Social pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma, psicóloga e membro da Secretaria de Comunicação da Santa Sé.
Jejuar é inspirador?
Jejuar é inspirador se você tiver Deus e os outros – em particular os mais necessitados – em um lugar central da sua vida. Coisas diferentes são as dietas e os regimes para emagrecer ou desintoxicar, que também são aconselháveis, mas que têm como foco você mesmo.
Do que devemos nos privar?
Muitas culturas e religiões têm praticado o jejum como aperfeiçoamento espiritual ao longo dos séculos. O ser humano sempre soube que, embora comer seja uma necessidade vital, é de pouco que precisamos para sobreviver e muito o que podemos dividir. Come-se menos para voltar-se ao essencial.
Além disso, devemos nos privar de tudo o que nos impede de estarmos próximos a Deus e de dar amor a quem está perto de nós.
Comer menos ou reduzir os prazeres da vida parece que não faz sentido se isso não estiver orientado a dar mais aos outros, a colocar no centro da vida não os nossos desejos, mas o querer de Deus: a paz, a justiça, a harmonia e a alegria.
Por tudo isso, também devemos nos despojar dos hábitos e rotinas, que, sem que a gente percebe, produzem dor a quem nos rodeia. Precisamos saber se estamos provocando ou não a “dor estúpida” em outras pessoas.
Mas o que é a “dor estúpida”? É o sofrimento que não tem sentido, aquele que não vem de algo superior ou de maneira transitória, mas que somente fere e deteriora as pessoas.
Você, como psicóloga, vê na Quaresma um momento psicologicamente fértil para as pessoas?
Quanto mais nos aprofundarmos no sentido e no espírito da Quaresma – preparando nosso coração para celebrar a ressurreição de Cristo – mais fértil pode ser para nós este período.
Focarmos naquilo que é essencial, renovar interiormente nossa crença em Jesus com todas as suas consequências, fazer jejum acompanhado de esmola e oração, tudo isso ajuda a nos sacudir da dispersão e da ansiedade, que, geralmente, marca a vida na era digital.
Se os jejuns são feitos apenas por costume, as boas práticas terminam vazias de conteúdo e se transformam em folclore. Se você sabe por que e para que jejua, ele se edifica.
Por que é positivo fazer outros tipos de jejum, como o que você sugere, que é o de não criticar?
Porque somos seres integrais, não divididos em corpo e em psicologia e relações pessoais. Somos uma unidade.
Tudo o que temos no coração contribui para criar um ambiente alegre, pacífico, neutro ou tenso ao nosso redor. Todas as nossas ações e até pensamentos podem ter um efeito sobre os outros. Um amigo me disse: “não fale nunca a ninguém mal de ninguém”. Procuro seguir esse conselho; as boas palavras e o silêncio podem ser bons “purificadores de ambiente”.