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BIENAL DO LIVRO: Imprensa Oficial promove noite de autógrafos de Marcos de Farias Costa nesta terça-feira

Poeta alagoano lança o livro A História do Soldado, no qual destaca trabalho como tradutor; obra é assinada por Charles-Ferdinand Ramuz e é fábula fáustica para ser levada aos palcos

por Patrycia Monteiro – Agência Alagoas

A Imprensa Oficial Graciliano Ramos lança nesta terça-feira (3), a partir das 19h, a obra História do Soldado, do romancista suíço Charles-Ferdinand Ramuz e o compositor russo Igor Stravinsky, traduzida pelo poeta Marcos de Farias Costa. A edição bilíngue, que apresenta o texto original em francês, dispõe ainda das partituras originais desta cantata cênica. A noite de autógrafos com o alagoano será promovida no estande da editora montado na 8ª Bienal Internacional do Livro de Alagoas, no Centro Cultural e de Exposições, bairro de Jaraguá.

A História do Soldado é uma espécie de ópera sem música (mimodrama) que nasceu da colaboração entre duas celebridades europeias do início do século XX: o romancista suíço Charles-Ferdinand Ramuz e o compositor russo Igor Stravinsky. Lançada em 1918, é uma fábula fáustica com clara mensagem antibelicista. No enredo, o diabo põe em xeque o soldado, que encarna a crítica das armas, num conto de fadas que se vira contra a utópica civilização ocidental cristã e branca.

No início da trama, o protagonista tira uma licença do quartel para visitar a mãe e a noiva, e acaba se deparando na estrada com um desconhecido, que lhe propõe trocar o seu livro, que prevê o futuro e obtém riquezas, pelo violino do soldado, desde que este se resigne a ensiná-lo a tocar. Concordando em termos, ele entra com o desconhecido (que é o diabo) na carruagem, para ensinar-lhe o instrumento e aprender a ler o livro mágico. Quando retorna, o soldado descobre que se passaram três anos. Ao fim, ele acaba perdendo a alma, numa espécie de metáfora contra o capitalismo.

“Histoire du Soldat foi uma ideia original de Ramuz, que na época foi perturbado pelas atrocidades da guerra e a ordem mundial exposta aos perigos. Ele concebeu uma curta peça musical para ser narrada e dançada, com apresentações em diversas locações e com pouco investimento financeiro”, explica Marcos de Farias Costa. Segundo ele, em sua construção miniaturista, a peça apresenta um narrador e três personagens: o soldado, o diabo e a princesa, que não fala.  A montagem prevê também a presença de uma pequena orquestra no palco (septeto) formada de um par de madeiras, cordas e metais, ou seja, fagote e clarineta, pistons, mais trombone, violino, contrabaixo e percussão. A música estabelece um diálogo com o texto.

Costa relembra que começou a tradução da obra de Ramuz por volta de 1986, a convite do maestro argentino Oswaldo Lupi. A ideia era levar o texto aos palcos alagoanos, sob a direção cênica de Moncho Rodriguez. “Oswaldo Lupi, segundo informações que obtive tempos depois, viera de São Paulo onde levava vida clandestina, escondido na residência do compositor Camargo Guarnieri, fugindo da violenta ditadura fascista do general Jorge Rafael Videla.

Chegando a Maceió pelas mãos do músico Julião Marques (pianista e acordeonista), o maestro Lupi logo ocuparia a função de regente da Orquestra de Câmara da Ufal”, conta, mencionando que a peça seria encenada no palco do Teatro Deodoro, em comemorações natalícias da Ufal.

“Infelizmente, por carência de músicos que pudessem superar as dificuldades de interpretação que esta música de vanguarda exige, a extraordinária obra de Stravinsky e Ramuz não foi encenada nos palcos de Maceió”.

Ao longo de três décadas a tradução de A História do Soldado realizada por Marcos de Farias Costa ficou guardada, sem pretensões de publicação, até que um incidente doméstico literalmente trouxe à tona o texto esquecido.  “Há uns oito anos, precisei fazer uma pequena reforma em uma casa da qual eu sou proprietário, situada na Rua do Uruguai, em Jaraguá. Um dia, por descuido do mestre de obras, em pleno mês de chuvas torrenciais, eu vi as águas invadirem a casa, quase me provocando um insulto cerebral, pois perdi livros, discos, documentos e outros papéis que nem quero relembrar. Ficou tudo alagado, com um palmo de água pelos corredores e salas. De repente, não mais que de repente, eu observei boiando um caderno velho, que, ao resgatá-lo, descobri que se tratava de minha antiga tradução da História do Soldado, quase inexplicavelmente apagada de minha memória. Vibrei de emoção ao reencontrar a minha velha tradução de Ramuz, que, embora encharcada, permanecia legível”, rememora, divertidamente.

Depois de pôr os papéis para secar, Costa retrabalhou o texto, e enviou uma correspondência à família do poeta na Suíça, recebendo uma simpática carta do punho da própria neta do poeta, Marianne Olivieri-Ramuz, que lhe enviou uma nova edição revisada do livro do poeta suíço. Com o livro original, o alagoano se deteve à tradução de maneira mais técnica. “Ofereço esta tradução de Ramuz ao leitor alagoano — sobretudo aos jovens e gente ligada ao teatro —, pois aqui se trata de um conto de fadas fáustico para cena e palco, com os ingredientes fantásticos de uma fábula popular. Stravinsky declarou que A História do Soldado deveria ser ‘falada, tocada e dançada’. E eu ainda defendo a grandeza desta obra, citando Hegel: ‘A poesia é uma janela aberta para o infinito’”.