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Juiz aposentado Diógenes Tenório faz um balanço da justiça alagoana

por redação A Notícia

(Fotos: Reprodução A Notícia)

O Juiz aposentado e atual Secretário Geral do Pleno do Tribunal de Justiça, Diógenes Tenório foi o entrevistado da semana no Programa Perguntar Não Ofende, realizado nesta segunda-feira (03) pelo jornal A Notícia. Durante a conversa, o magistrado abordou os desafios da carreira, além de reiterar o público sobre a atual situação político-jurisdicional do Estado.

Diógenes contou como começou sua carreira quando foi nomeado Juiz de direito na década de 90, em Murici. Foi lá, que na política acabou sendo o vereador mais votado e ainda candidato a prefeito, mas acabou sendo derrotado por Olavo Calheiros.

No Judiciário ele atuou por 16 anos, engajando-se na busca de soluções para a segurança pública. Ele participou da Câmara de Monitoramento do Programa Brasil mais Seguro, foi um dos fundadores do Núcleo de Combate ao Crime Organizado do Judiciário, e integrou a 17ª Vara Criminal da Capital, que julga ações contra organizações criminosas.

O Pleno do Tribunal de Justiça de Alagoas (TJ/AL) aprovou, a aposentadoria de Diógenes Tenório em 2014, sendo a partir deste momento, o primeiro magistrado convidado pelo governo, a chefiar a Secretaria Estadual de Defesa Social (SEDS).

“Quando assumi a Secretaria, encontrei o local sem recurso para planejamento, mas assumi o cargo sem sequer uma vez contemplar bandido. Eu tentei resgatar a paz que a sociedade tanto almejava”, disse Tenório ao ser questionado sobre a experiência na secretaria.

Outro trabalho que também desenvolveu foi junto ao Núcleo de Combate a Violência de Alagoas, no qual a OAB julgava ter um ativismo inconcebível, alegando que a função do juiz estaria sendo usurpada.

Sobre essa questão, Diógenes disse que o núcleo acabou incomodando muitas instituições, por que estava relativamente ativo, em um momento em que Alagoas se assemelhava ao atual cenário do Rio de Janeiro.

“ Naquela época o crime desapontava a todos. Ai veio um grupo de magistrados que começou a incomodar devido a algumas ações. Nós prendemos deputados, alguém do colarinho branco, batemos em portas em que nunca se bateu, e por isso criaram uma campanha para acabar com o núcleo”, declarou o ex-juiz.

Quando o assunto foi o atual trabalho dos magistrados no estado, a opinião veio acompanhada de uma comparação.

“Eu tinha um respeito fenomenal pela magistratura, principalmente quando era advogado. Essa situação perdurou, mas nem todos fazem o certo. Acredito que se crie uma relação mutua entre sociedade e magistrados”, contou Diogenes explicando que hoje ainda há uma barreira que limita a aproximação entre os lados.

Levando em consideração que a sociedade hoje, tem feito justiça com as próprias mãos, ignorando muitas vezes a ação do poder público, Diógenes acredita que as pessoas ainda sim tem esperança na justiça, já que ainda é respeitada pelos cidadãos .

“A justiça deve se aproximar da sociedade e atender aqueles que vão ate o magistrado.

Nosso direito veio de muita luta. Foi assim que surgiu a CLT em19 41, como também, foi através da justiça que se retirou os negros da escravidão”, concluiu.

Polêmicas

Na época em que era Juiz, Diógenes chegou a assumir a defesa do Cabo Henrique, homem acusado de assassinar Ernesto Calheiros em 1982.Segundo Diógenes, o cabo foi absolvido, mas ficou foragido da justiça e acabou sendo preso e assassinado no estado do Mato Grosso.

“Ele fugiu do quartel, até hoje é uma fuga misteriosa. Eu tive que responder a um inquérito porque tinha sido a ultima visita do réu, num dia próximo a fuga. Eu cheguei a ser ameaçado de morte junto a minha família por conta das investigações, mas não fui covarde, continuei o trabalho”, lembrou.

Auxílio Moradia

Um tema que ainda chama a atenção da sociedade, também foi abordado durante a entrevista. Trata-se do auxílio-moradia que os juízes ativos recebem.

“Os juízes como um todo sofrem uma defasagem dos seus subsídios. O que acontece, é que ao invés de tentarem através de um processo legislativo legitimo conquistar esses benefícios, eles adotaram o viés do auxilio que passa a contemplar o magistrado da ativa e com isso cria uma disparidade”, explicou.